segunda-feira, 7 de setembro de 2015

"Thammy adere ao partido de Bolsonaro." Absurdos...?

...são as sementes da Globo (BBBs & CIA) dando seus frutos ---Geraldo Jr.

Extraído do Site Jornalistas Livres



Thammy adere ao partido de Bolsonaro. Pirou?


Por Leo Moreira Sá, especial para os Jornalistas Livres

Caiu como uma bomba nas redes sociais o post que Thammy Miranda publicou em tom de comemoração, ao fechar acordo para presidir o núcleo LGBT do Partido Progressista (PP) e sair vereador por São Paulo no próximo pleito. Atenção: este é o partido de Jair Bolsonaro, o arqui-inimigo da comunidade LGBT



“Agora o negócio vai ficar sério. Não adianta só reclamar e não fazer po…nenhuma. Vim aqui brigar por nós e esses caras sensacionais me escutaram. Pedi para ter o novo PP Diversidade, e eles me ouviram. Muito obrigado por lutar junto comigo.” (Thammy Miranda)
É bem possível que Thammy não tenha consciência/ vivência política suficiente para perceber o oportunismo desses “caras sensacionais” em cooptar seu capital artístico com o objetivo de angariar mais votos para a legenda. Mas qualquer ovelha sabe que não se deve entrar na toca do lobo, que não dá pra negociar com um partido que abriga políticos homotransfóbicos como Jair Bolsonaro, o arqui-inimigo da causa LGBT.

Partido de direita, o PP nasceu em 1993, oriundo da fusão do PDS — Partido Democrático Social (sucessor da antiga ARENA, sustentáculo da Ditadura Militar) com o Partido Democrata-Cristão. A entrada de Datena e Thammy fazem parte de uma suposta “renovação” do partido, que quer desvincular sua imagem do ex-governador de São Paulo Paulo Maluf, autor da antológica frase: “Se está com desejo sexual, estupra mas não mata”.

É uma “renovação” que mantém a essência autoritária e conservadora do PP, a mesma desde sua origem no governo militar.

Nos partidos de direita, Direitos Humanos só existem em seus programas de governo para dar um tom democrático, mas na prática a direita só quer manter e fortalecer o stablishment. Na maior parte das vezes, esses partidos são ligados aos fundamentalistas religiosos na defesa da família hetero-cis-normativa. Por que as elites com seus partidos de direita fariam concessões às populações socialmente vulneráveis, como a comunidade LGBT? Que interesse elas teriam na emancipação de pessoas que questionam as relações de poder que sustentam os seus privilégios?

Por outro lado a esquerda abriga muitas vezes negligencia e joga para o final da fila das prioridades os direitos das pessoas LGBTs, como se a nossa luta não passasse de uma cortina de fumaça que escondesse a “luta maior” que é a luta de classes.


Atacado pela direita e negligenciado pela esquerda, o incipiente ativismo LGBT tem atravessado mais de três décadas à deriva, sendo cooptado por todos os partidos apenas quando interessava conquistar mais votos. Nenhuma causa política que envolva conquista de direitos LGBTs consegue reunir 0,001% das paradas que levam milhares para a festa na paulista. O exemplo mais recente foram as votações do Plano Municipal de Educação de São Paulo, em que a multidão de fiéis católicos ocupou todo o espaço vazio em frente a Câmara Municipal e conseguiu influenciar a aprovação do texto final homotransfóbico.

Thammy é filho de Gretchen

Hoje as mulheres cisgêneras, depois de décadas de luta por igualdade de direitos, vêm conquistando seu lugar no espectro político embora ainda estejam bem longe de se equipararem ao número de políticos homens. Mulheres transexuais e travestis ainda são desqualificadas e ignoradas sistematicamente, quando não são demonizadas. Lésbicas ainda travam uma difícil batalha por visibilidade e respeito, enquanto homens gays tem movido os limites e conquistado inclusive grande fatia do mercado de trabalho. Mas homens trans, como Thammy Miranda, na maior parte dos casos nem existem socialmente, não são ainda considerados sujeitos políticos, e talvez essa seja mesmo a última fronteira dos direitos humanos a ser desbravada.

Luciano Palhano, coordenador do Instituto Brasileiro de Transmasculinidade (IBRAT), postou no seu perfil do facebook que homens trans são hoje “a bola da vez” nas articulações políticas. É preciso problematizar esta questão de forma minimamente (auto) crítica: os homens trans são a mais nova identidade política no movimento LGBT do Brasil (e por identidade política leia-se coletivo organizado de um segmento de pessoas com demandas específicas), e considera que, por ser um movimento político embrionário,
“nem todos os homens trans atualmente possuem uma experiência política anterior em outro segmento, justamente por se sentirem deslocados do seu lugar de sujeito político antes de assumirem suas identidades”.
Acredito que Thammy tenha tido boas intenções em se disponibilizar para um cargo político, com o objetivo de representar principalmente a comunidade de homens trans que é uma das que mais sofrem com a invisibilidade social:

“Acho que uma das coisas que precisam mudar na questão da diversidade é a viabilização para que trans façam a mudança de nome. É importante também reorganizar a fila de cirurgia da mastectomia. Ter estrutura para os psicólogos no SUS. Segurança para essas pessoas. Muitas coisas importantes”.
Mas que autonomia e apoio ele teria num partido que não luta por igualdade social e prefere manter a ordem cisheteronormativa? Como conviver com o pior opositor da causa LGBT, Jair Bolsonaro?
O bolsonarinho, filho de Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, já antecipou a rixa do papai com Thammy, quando comentou a foto em seu perfil no Twitter :
“Bacana, @deputadoguilhermemussi. Já avisaram a ela que o Jair Bolsonaro também é do PP? Será que rola dele criar o PP-Hétero? Ou seria homofobia?”
Repare o uso do pronome feminino “ela” para designar Thammy. Desrespeito!
Em entrevista à revista (não) “Veja”, Thammy declarou que não conhece a trajetória do deputado homotransfóbico: “Só o entrevistei uma vez no programa Raul Gil. Sei o que a mídia fala, as declarações que ele dá na Câmara e que costumam gerar polêmicas. Mas acho que já é uma vitória ter um núcleo LGBT no partido dele. Eu o respeitarei se ele me respeitar. Minha intenção é que ele entenda o que é ser homossexual, que isso não é nada diferente do que ele é”.

Thammy começou a transição para a atual expressão de gênero há pouco tempo, e tem se interessado pela luta por direitos dos homens trans, entrando em contato com os militantes do IBRAT, mas ainda não conseguiu entender nem a diferença entre identidade de gênero e orientação sexual quando se declara “homossexual”. Sobre política, assume que tem “pouca noção, sou como qualquer brasileiro, só sei do que vejo pela TV (Globo, é claro). Mas não tenho a política como meu meio de vida, não é do que eu quero viver”.

Com certeza, ele ainda tem um bom caminho a percorrer para construir uma consciência política crítica e consistente que o faça perceber os meandros oportunistas da pior política que, infelizmente, podem transformá-lo em massa de manobra para o PP.

Depois de toda a repercurssão negativa nas redes sociais, Thammy Miranda tentou suavizar, fazendo nova postagem negando que já havia se filiado ao Partido Progressista mas não conseguiu neutralizar as consequências do seu ato.

“Pessoal, só pra deixar claro que ainda não me filiei a nada! Só me convidaram pra presidir o Núcleo de Diversidade, e nós vamos analisar se podemos com isso levar nossa voz para um partido, vamos dizer, ‘homofóbico’… Não sou imbecil, mesmo que pareça, às vezes (eu sei). Mas fiquem calmos, só vai acontecer o que for melhor pra gente”.

Repare que é o próprio Thammy quem chama o PP de, “vamos dizer, ‘homofóbico’”.
A luta em defesa dos direitos humanos é suprapartidária e está acima das meras contendas ideológicas, e não cabe aqui defender um sistema político ideal, mas partidos de esquerda, por defender direitos das populações socialmente vulneráveis, têm uma agenda programática mais favorável aos LGBTs. Mas a esquerda precisa com urgência rever suas prioridades e valores morais que a distanciam das questões contemporâneas mais urgentes como a luta por direitos da comunidade LGBT, sistematicamente negligenciada em nome de projetos de poder e de “governabilidade”.
Ainda bem que vivemos numa democracia e uma pessoa LGBT tem todo o direito de ter sua orientação política, mas não parece lógico apoiar ou entrar em um partido que abriga políticos homotransfóbicos. É no mínimo incoerente. O ativismo LGBT precisa avançar na busca de um lugar político suprapartidário, que contemple as demandas por cidadania das comunidades representadas em cada letra.




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