quarta-feira, 13 de abril de 2016

Impeachment e As Vozes dos SILVAS... ---- Geraldo Jr.




Do Blog de Luciana Barreto

O Impeachment, o Funk e                   o Povo Preto


funk rio



Escrito por Luciana Barreto
Um intelectual de esquerda me perguntou, recentemente, por que o movimento negro ainda não foi às ruas lutar contra o Golpe. De pronto, sem pensar, devolvi com outra pergunta: por que a esquerda ainda não foi pra rua lutar contra o extermínio dos jovens negros?
Sem resposta, de ambos os lados, decidi sair perguntando aos meus: você já escolheu um lado? Qual?
Ninguém entende mais de traição e golpe neste país que o Silva. Nasceu pobre, enfrentou todo tipo de desigualdade, violência policial. Encarou a luta pela sobrevivência, sem promessa alguma ou perspectiva de mudança na sua condição social. Isto é ou não uma traição do Estado? Que fique claro aqui de que Silva estamos falando: trata-se daquele “que era só mais um”, “pegava o trem lotado”, e “que a estrela não brilha”. O Silva tão cantado no funk dos anos 90. Aquele que “era pai de família” e acabou assassinado.
Nas últimas décadas, a família Silva começou a sonhar. Os indicadores sociais melhoraram muito. Mas os extermínio está sempre rondando sua porta. Políticas públicas permitiram, por exemplo, que mais de 150 mil negros ingressassem na universidade por meio das cotas. Em 10 anos, triplicou o percentual de negros no ensino superior.Caiu também o analfabetismo (mas a taxa entre os negros ainda é o dobro que entre os brancos). Mais de 70% dos beneficiados pelo Bolsa Família são negros. É fato que o desemprego é maior entre a população negra, e a renda desse grupo, menor. No entanto, a violência faz com o que os negros vivamnum Brasil à parte. O Brasil é o país onde mais se mata no mundo. De acordo com o Mapa da Violência 2015, o número de mulheres negras mortas cresceu 54% entre 2003 a 2013, enquanto que o número de mulheres brancas assassinadas caiu 10% no mesmo período. Como enfatiza a Anistia Internacional, a cada doisdias cai um Boeing no Brasil com jovens de 15 a 24 anos vítimas, na verdade, de armas de fogo. Setenta e sete por cento dos “passageiros” são negros. De 1980 até hoje, a taxa de homicídio no Brasil cresceu 148,5%. E assim, os Silva sonham, mas não têm garantia do amanhã.
Esses números são fundamentais para entender o posicionamento da população negra em relação à crise política. A lista de críticas ao governo vai além dos homicídios de jovens negros. Passa pela criminalização de movimentos sociais na Lei Antiterrorismo, redução da demarcação de terras quilombolas, desproteção da população mais pobre e negra com a crise econômica e falta de diálogo com movimentos sociais. Mas, curiosamente, ativistas do movimento negro têm se posicionado contra o impedimento da presidente Dilma Rousseff. Uma indicação clara de que os avanços sociais ainda estão gritando na sociedade.
Aspas:
“Sou totalmente contra. O que está acontecendo e golpe. O povo negro tem sido omisso. Como de resto, as lideranças negras, se é que ainda existem, estão caladas. Receio que seja para não perder as migalhas do banquete de um lado ou de outro. Há uma “elite” negra que está em cima do muro porque também é detentora de algum poder e não quer contrariar seus pares e/ou patrões. Muitos de nós adora ser o único preto no restaurante e condomínios de luxo, no hotel cinco estrelas, no avião, nos clubes sociais fechados, na mídia etc, em detrimento da maioria surda e cega manipulada pelos meios de comunicação de massa. É um prazer mórbido cada vez mais presente e arraigado ao perfil do negro que ascende social e economicamente! Tenho dito!
Mombaça – músico
Mombaça – Músico
Mombaça – Músico
“Ainda estou indeciso. O que sei é que os negros, com impeachment ou sem, estão mesmo fora do jogo.”
Humberto Adami – Comissão Nacional da Verdade sobre a Escravidão Negra da OAB
Humberto Adami - Comissão Nacional da Verdade sobre a Escravidão Negra da OAB
Humberto Adami – Comissão Nacional da Verdade sobre a Escravidão Negra da OAB
“Eu também me sinto perdida às vezes… achando que só intelectuais acadêmicos que podem discutir política. E a gente sabe o porquê disso! É bom pro sistema opressor que sejamos massa de manobra sempre, né? Uma população que não questiona segue morrendo, segue se matando, segue não existindo, segue não incomodando o projeto de discrepância e
distanciamento social. Quando reclamamos, quando nos atentamos para golpes, mostramos que não somos mais convenientes. Mostramos que somos pertencentes a este cenário, ainda que se esforcem a nos empurrar pro abismo do silenciamento. Ainda assim, falamos! Escrevemos! Resistimos!”
Fabíola Oliveira – empresária Colares D’Odarah
Fabíola Oliveira – empresária Colares D'Odarah
Fabíola Oliveira – empresária Colares D’Odarah
“Sou contra o impedimento e acho que ele esconde uma estratégia de bloqueio dos avanços sociais, sobretudo nas questões raciais…”
Macedo Griot
Macedo Griot
Macedo Griot
“Acho que a comunidade negra não deveria se partidarizar nesse caso e se colocar a favor da apuração completa de todos esses escândalos, porque, no final das contas, é com o dinheiro das políticas públicas sociais, cujo foco é majoritariamente o preto e o pobre, que estão mexendo.”
Irapuã Santana – professor de Direito
“Estou do lado da presidenta Dilma Roussef que venceu as eleições em 2014 com mais de 54 milhões de votos. Sou contra o impeachment que, no meu entender, é um ato contra a democracia que construímos com tanto suor, lágrimas, torturas e mortes. A população negra em sua maioria defende o governo e não participou das marchas pró- impedimento do seu mandato pois vê que os governos do PT melhoraram sua condição de vida.”
Carlos Machado – pesquisador e historiador
“Eu sou totalmente contra o impeachment. Vejo que as pessoas negras que eu conheço, que fazem parte do meu cotidiano, a maioria é contra. Não acho que esse movimento que está sendo feito contra o governo vai beneficiar os negros, ou negros. Muito pelo contrário.”
Carmem – jornalista do blog Vem, Divante!
“Sou a favor da democracia e assumi posicionamento público junto com colegas professoras e professores de Comunicação da Universidade Católica de Brasília. O cenário atual exibe um atentado a democracia e a responsabilização sumária da presidenta sem crimes atribuídos à sua figura no exercício do mandato que lhe foi conferido pela maioria da população. O povo negro está posicionado contra o impeachment e participante ativo nas manifestações em defesa da democracia.”
Isabel Clavelin – Jornalista ou Professora da Universidade Católica de Brasília
“Não sou a favor do impeachment. Acredito que o povo negro não está sendo respeitado em seu direito primordial, que é o direito a vida, em nenhuma das gestões em disputa. Portanto não sou a favor do envolvimento do povo negro na defesa do PT. Pois este esteve no poder assim como os outros e não desacelerou nem o processo de extermínio e nem de carceralização do povo negro. Porém que as eleições sejam respeitadas sempre! Se não, nem o voto que seria um direito político adquirido com tanta luta, não será soberano como se propõe uma sociedade democrática.”
Érida Ferreira – Cineasta e historiadora
Érida Ferreira - Cineasta e historiadora
Érida Ferreira – Cineasta e historiadora
“O meu lado são daqueles que consideram este impeachment, especificamente, um golpe contra a democracia e contra uma presidente democraticamente eleita e que pratica uma gestão do ponto de vista administrativo igual aos governos estaduais, e fez uma campanha político eleitoral, do ponto de vista do levantamento de recursos, exatamente igual a quase todos partidos brasileiros. Portanto, um impeachment para ela não procede, é um golpe. Eu considero também que a vitória do impeachment pode significar um grande retrocesso das conquistas obtidas pelo povo negro nos últimos 13 anos. O país sofrerá um retrocesso político, e vários direitos adquiridos também poderão sofrer um enorme retrocesso, especialmente aqueles diretamente ligados à parcela da população mais pobre, portanto, de maioria negra, uma vez que o novo arco de aliança que se anuncia para ocupar o poder é abertamente contra cotas para jovens negros na universidade e terra para quilombolas. Além de não zelar por direitos humanos, das mulheres, dos gays e muito mais.”
Joel Zito Araujo – cineasta


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